O que é enxaqueca?
Enxaqueca, também conhecida como migrânea, é um tipo de cefaleia (dor de cabeça) caracterizada por crises de dor de moderada a forte intensidade, com característica pulsátil, geralmente associadas a náusea, vômitos, sensibilidade aumentada à luz e sons.
É uma das cefaleias mais comuns na população, afetando mais comumente mulheres jovens, podendo ocorrer inclusive em crianças. Esse distúrbio neurológico possui base genética e fisiopatologia complexa ainda em estudo.
Toda dor de cabeça é enxaqueca?
Não. Há diversas causas de dor de cabeça, sendo o tipo mais frequente chamado “Cefaleia Tensional”. Enxaqueca é a segunda causa de dor de cabeça mais frequente. Há critérios específicos para seu diagnóstico, descritos abaixo.
Como a enxaqueca se apresenta?
Uma crise típica de enxaqueca envolve 4 fases: pródromos, aura, cefaleia (a dor de cabeça propriamente dita) e pós-crise. A exata progressão e duração dos sintomas varia de pessoa para pessoa.
Os pródromos são caracterizados por sintomas que antecedem a crise, e estão presentes em cerca de 75% dos pacientes. Podem ocorrer de 24h a 48h antes da crise. Os sintomas incluem:
- Alterações de humor
- Sonolência
- Dor no pescoço
- Alterações de apetite
- Obstipação intestinal
- Sensação de cabeça “vazia”
Em cerca de 25% dos quadros de enxaqueca ocorrem sintomas específicos que caracterizam a aura. Tais sintomas são oriundos de disfunção cortical (locais específicos do cérebro) e são totalmente reversíveis. As auras podem ser visuais (mais comuns), sensitivas ou motoras:
- “Flashes” luminosos na visão
- Borramento visual
- Dificuldade em enxergar uma parte do campo visual
- Formigamentos em mãos, pés, face, língua
- Vertigem/ tontura
- Dificuldade na fala
Esses sintomas geralmente precedem ou ocorrem junto com a cefaleia, mas há casos mais raros em que a cefaleia não está presente (aura sem cefaleia). Neste caso, é importante a diferenciação com episódio isquêmico (“derrame cerebral” ou “AVC”).
Atenção: pacientes que apresentam enxaqueca com aura e fazem uso de anticoncepcional hormonal oral combinado apresentam risco aumentado de eventos vasculares trombóticos.
A crise de enxaqueca é característica: início gradual, evoluindo para dor pulsátil, geralmente em apenas um lado da cabeça (pode variar de lado em outras crises), durando até 3 dias (72h). Há geralmente piora da dor em ambientes com mais luz (fotofobia), sensibilidade aos sons (fonofobia), sensibilidade aos cheiros (osmofobia), piora com atividade física. Também ocorrem náuseas (enjoo) junto à dor, associados ou não a vômitos.
Após a crise, muitos pacientes queixam-se de “cabeça vazia”. Pode ocorrer também uma sensibilização do couro cabeludo, com dor/ queimação ao pentear os cabelos, por exemplo. Há formas mais raras (e mais graves) de enxaqueca, em que os pacientes podem apresentar-se com paralisia de alguma parte do corpo durante e após a crise (enxaqueca hemiplégica familiar).
Quais as causas da enxaqueca?
Enxaqueca tem base genética. Ou seja, há uma certa predisposição dessa patologia em familiares que têm enxaqueca. Estudos mostram que há um risco aumentado de cerca de 3 vezes uma pessoa apresentar enxaqueca se há familiar com esse diagnóstico na família. Entretanto, o tipo de herança genética é provavelmente complexo, envolvendo vários genes com uma combinação de susceptibilidade e sensibilidade à dor.
O mecanismo que leva à crise de dor também ainda não foi completamente esclarecido. As hipóteses envolvem sistemas corticais, sensibilização, neurotransmissores e genes específicos.
Alimentação influencia nas crises?
Há diversos fatores que podem desencadear uma crise de enxaqueca, chamados “triggers”. Entre eles, o mais comentado é a alimentação. Atualmente, os estudos comprovaram que não há alimento específico que cause a crise, e que portanto deve ser evitado. Em relação à alimentação, períodos de jejum podem sim desencadear crise. Dessa forma, é orientado alimentação regular. Também é recomendável que os pacientes observem suas crises e possível relação com alimentação, pois apesar de não haver comprovação científica de alimentos que causem a dor, sempre é bom que o paciente conheça suas crises e os fatores que a antecederam. Quando é identificado um alimento que está sempre associado à crise (ex: vinho, queijo), ele deve ser evitado.
Um fator de confusão nessa questão é a presença de vontade de comer alimentos de alto valor energético (“craving”) no início da crise. Esse impulso de alimentar-se não é um antecedente da crise, mas sim um sintoma da própria crise. Isso ocorre por uma necessidade de o cérebro aumentar seu metabolismo, uma vez que na crise de enxaqueca há uma redução do metabolismo.
Quais outros desencadeantes da crise de enxaqueca?
Outros triggers incluem:
- Estresse
- Alterações no sono (falta ou excesso)
- Cheiros específicos
- Uso de substâncias químicas
- Uso prolongado de celulares/ computadores
- Esforço físico
Como é feito o diagnóstico de enxaqueca?
O diagnóstico é clínico, baseando-se em critérios específicos da Classificação Internacional de Cefaleias da Sociedade Internacional de Cefaleias. Exames complementares são necessários somente em quadros atípicos e quando há alteração do exame neurológico.
A depender da frequência das crises, a enxaqueca pode ser caracterizada como episódica (frequente ou infrequente) ou crônica. Pacientes com mais de três crises por mês apresentam indicação formal de uso de medicação profilática (preventiva), mas essa avaliação deve ser individualizada caso a caso, pois mesmo pacientes com crises menos frequentes podem apresentar alto grau de incapacidade pela doença.
Qual o tratamento da enxaqueca?
A base do tratamento da enxaqueca é mudança do estilo de vida:
- Alimentação saudável
- Evitar períodos de jejum
- Praticar exercícios físicos de forma regular (preferência pelos aeróbios, pelo menos 3 vezes na semana)
Tratamentos comportamentais também apresentam eficácia comprovada no controle da enxaqueca, e incluem:
- Biofeedback
- Relaxamento assistido
- Terapia cognitivo-comportamental
O tratamento da crise aguda inclui analgésicos simples, antiinflamatórios não hormonais, e medicações mais específicas, como triptanos. Bloqueios de nervos em pontos específicos cranianos também pode ser um tratamento adjuvante de crises frequentes e intensas, assim como injeção de toxina botulínica. A utilização de opióides (medicações derivadas da morfina) deve ser evitada, uma vez que podem favorecer crises de cefaleia rebote.
Nos casos de enxaqueca crônica ou episódica frequente, é indicado tratamento profilático (preventivo). Nesse tratamento, geralmente é utilizada medicação de forma contínua por pelo menos 6 meses. Há diversas classes de medicações: betabloqueadores, anticonvulsivantes, antidepressivos, antagonistas CGRP.
Aplicação de toxina botulínica também pode ser eficaz em algumas enxaquecas crônicas. Há um protocolo específico com pontos de aplicação e periodicidade em que deve ser feita.
Além das medicações, há também algumas substâncias que demonstraram benefício no controle da enxaqueca: coenzima Q, Riboflavina (vitamina B6) e magnésio.
O tratamento adequado deve ser indicado e prescrito pelo médico neurologista, que deve realizar também um acompanhamento periódico ao paciente. Um bom tratamento pode ajudar a prevenir possíveis complicações da enxaqueca, tais como:
- Cronificação de uma enxaqueca previamente episódica frequente
- Estado de mal enxaquecoso (crise de dor ininterrupta por mais de 72h)
- Aura persistente sem infarto cerebral
- Infarto enxaquecoso (diagnosticado por exame clínico e neuroimagem)
E a enxaqueca menstrual?
Enxaqueca menstrual é caracterizada por crises que ocorrem geralmente de 2 a 3
dias antes da menstruação. A sua causa provável é a queda nos níveis de estrogênio que ocorre nessa fase do ciclo. As crises costumam ser mais intensas, duradouras e mais difíceis de responder às medicações.
O tratamento pode incluir medicações analgésicas e antiinflamatórias antes da menstruação, uso de medicações contínuas (como nas enxaquecas crônicas) ou tratamentos hormonais específicos.
Ficou com alguma dúvida? Escreva abaixo para que eu possa te auxiliar!
Nossa fiquei admirada, td que a Dra escreveu eu tenho, se pudesse marcaria consulta com ela, já tenho enxaqueca desde mocinha, mas a minha queixa é que depois da academia tenho muita dor.
Parabéns Dra.