
Doença de Parkinson
O que é Doença de Parkinson?
A Doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que afeta o controle cerebral sobre os movimentos do corpo. Sendo uma doença degenerativa, ocorre gradativamente uma perda neuronal em locais específicos do cérebro, que produzem um neurotransmissor chamado dopamina. Afeta predominantemente indivíduos acima de 60 anos de idade, sendo rara antes dos 40 anos.
Estima-se que a cada 1000 indivíduos acima dos 40 anos, 3 tenham doença de Parkinson. Há uma predominância no sexo masculino.
Apesar de a Doença de Parkinson ser considerada tradicionalmente como uma desordem motora, hoje é vista como uma entidade complexa, afetando vários domínios, com sintomas neuropsiquiátricos e não motores, sobretudo na fase inicial da doença.
Quais são os sintomas da Doença de Parkinson?
Os sintomas parkinsonianos são divididos em motores e não-motores.
Os principais sintomas motores são:
- Tremor
- Lentificação dos movimentos (bradicinesia)
- Rigidez muscular
- Desequilíbrio (instabilidade postural)
Observação: o desequilíbrio costuma ocorrer em fase mais avançada da doença de Parkinson. Caso ocorra no início, deve-se pensar em outros diagnósticos diferenciais, como Paralisia Supranuclear Progressiva e Atrofia de Múltiplos Sistemas.
Existem ainda uma variedade de sintomas motores, dentre eles: diminuição do piscamento dos olhos, hipomimia facial (expressão facial mais fixa), alterações da fala, visão turva, micrografia (diminuição do tamanho da escrita), dificuldade em mudar de posição na cama, disfagia (engasgos).
Os sintomas não motores incluem:
- Problemas cognitivos (afetando atenção, planejamento, memória) e demência: a longo prazo, presente em até 40% dos pacientes
- Psicose e alucinações: alterações da percepção da realidade. As alucinações mais comuns são as visuais, e geralmente são causados ou mais intensificados por efeitos colaterais de medicações
- Alterações de humor, sobretudo depressão
- Desordens relacionadas ao sono: dificuldade em iniciar ou manter o sono, distúrbio comportamental do sono REM (caracterizado por “sonhos muito vivos”, em que o paciente interage com o sonho, geralmente com movimentos agressivos, com risco de queda da cama ou agressão do cônjuge)
- Sonolência diurna excessiva
- Fadiga (cansaço, diminuição da energia)
- Disfunção autonômica (alteração nos batimentos cardíacos, pressão arterial, digestão, perda urinária, disfunção erétil)
- Anosmia (perda do olfato): pode anteceder a Doença de Parkinson em vários anos
- Dor
Toda Doença de Parkinson tem tremor?
Não. O tremor é um dos sintomas da doença, podendo estar ausente. Há apresentações de doença de Parkinson em que predomina a rigidez e lentificação dos movimentos (bradicinesia).
Todo tremor é Doença de Parkinson?
Não. Há diversas causas de tremor, tais como:
- Ansiedade
- Uso de medicações
- Tremor fisiológico
- Tremor essencial
Quando presente, o tremor da doença de Parkinson tem características específicas que o distinguem de outras doenças: os movimentos rítmicos são em prono-supinação (“em contar de moedas”), pior no repouso e em momentos de distração (como assistir TV), e são assimétricos (pior em um dos membros em comparação ao outro).
Apesar de ser mais frequente o tremor nos braços, ele também pode estar presente nas pernas e na mandíbula.
Quais são os fatores de risco para Doença de Parkinson?
Os principais fatores de risco são idade (maior risco acima dos 60 anos) e história familiar positiva. Outros fatores menos relevantes, mas com evidências em estudos epidemiológicos, são:
- Exposição a pesticidas
- Alto consumo de alimentos gordurosos
- Baixos níveis de vitamina D
- História de trauma craniano
- Alta ingestão de ferro, especialmente em combinação com magnésio
- Obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica
- Presença de melanoma (câncer de pele maligno) e câncer de mama
Existe alguma forma de prevenir a Doença de Parkinson?
Existem alguns estudos que demonstraram a presença de fatores possivelmente protetores para a Doença de Parkinson, tais como:
- Consumo de café
- Realização de exercício físico
- Uso de estatinas (medicações para controle de colesterol) – dados conflitantes
Como é feito o diagnóstico da Doença de Parkinson?
O diagnóstico da Doença de Parkinson é clínico. Deve ser avaliada a história do paciente cuidadosamente, e complementar com um exame neurológico completo.
Dois dos três sinais cardinais (tremor, rigidez, bradicinesia) devem estar presentes, sendo um deles bradicinesia (lentificação motora). Outros fatores que suportam o diagnóstico são:
– Sintomas iniciaram de um lado do corpo (de forma assimétrica)
– O tremor ocorre quando membro está em repouso
– Os sintomas melhoram com o tratamento da doença (resposta positiva à medicação)
A resposta positiva à medicação é o que dá mais certeza diagnóstica, uma vez que há outras doenças neurodegenerativas que podem apresentar-se inicialmente de forma semelhante à doença de Parkinson, mas não respondem de maneira satisfatória ao tratamento.
É necessário realizar exames para o diagnóstico da Doença de Parkinson?
Não há exame que confirme o diagnóstico. Os exames são solicitados no geral para excluir outras possíveis causas dos sintomas e para tratamento conjunto de comorbidades (doenças associadas, tais como diabetes). O exame de neuroimagem (como Ressonância Magnética Cerebral) pode ser solicitado para casos em que a história clínica não é tão típica, e há outros diagnósticos diferenciais, como parkinsonismo vascular (causado por AVCs), tumor intracraniano.
O exame de SPECT cerebral para transportadores de dopamina (TRODAT-1) pode diferenciar um tremor parkinsoniano de tremor essencial. Pode ser usado como um exame complementar em casos de dúvidas diagnósticas, pois avalia quantitativamente os neurônios transmissores de dopamina no cérebro. No entanto, esse exame não consegue diferenciar doença de Parkinson de outras doenças neurodegenerativas que também cursam com redução dos neurônios dopaminérgicos, tais como Paralisia Supranuclear Progressiva, Atrofia de Múltiplos Sistemas, Degeneração corticobasal, Demência dos Corpúsculos de Lewy.
Existe tratamento para Doença de Parkinson?
Como a Doença de Parkinson é neurodegenerativa, não existe até o presente momento cura para a doença. Os tratamentos existentes ajudam no controle dos sintomas. A melhora de um determinado sintoma às medicações é variável de paciente para paciente, e também de acordo com o sintoma.
Por exemplo: o sintoma do tremor geralmente responde à doses maiores de levodopa que em comparação com a rigidez.
As principais medicações utilizadas para tratamento são levodopa (Prolopa – precursor de dopamina) e agonistas dopaminérgicos (aumentam a ligação da dopamina ao seu receptor), como o Pramipexol. Outras medicações incluem Selegilina, Rasagilina, Entacapone, Amantadina.
Além do tratamento dos sintomas cardinais da doença de Parkinson (tremor, rigidez e lentificação motora), é necessário tratar também os outros sintomas não motores que podem estar presentes. Dessa forma, é necessário sempre avaliar e reavaliar a cada consulta outros sintomas tais como: constipação intestinal, desequilíbrio, dor, depressão, transtornos relacionados ao sono, incontinência urinária.
Realização de fisioterapia motora, atividade física e fonoterapia (em casos de engasgos e dificuldade para fala) também auxiliam muito no tratamento da doença como um todo.
É necessário alguma dieta específica para quem tem Doença de Parkinson?
Não existe consenso quanto a um tipo específico de dieta para quem tem doença de Parkinson. Alguns estudos demonstraram progressão mais lenta da doença com uso da dieta do mediterrâneo.
As recomendações gerais quanto à alimentação são:
- Consumo de fibras e hidratação adequada podem auxiliar na constipação intestinal
- Evitar refeições em grande volume que aumentam o tempo de esvaziamento gástrico podem prejudicar a absorção das medicações
- Alimentar-se preferencialmente pelo menos 30min após a tomada das medicações